260. já agora: um beijo
a rua estava despidamente nua. ao longe, o arranhar quase imperceptível das folhas num seco mas meigo bailado de outono… ‘and now my days are short… i’m in the autumn of the year…’ e, tirando partido disso, aconchego-me na memória de outras memórias, outras histórias, outras tantas escórias, outras apenas outras… tão indiferentes quanto merecem ser.
ribomba, num efeito borboleta por entre a pele dos edifícios, o amargo vociferar do outro zé… o zé-das-medalhas... raios! que personagem tão bio-desagradável… tão mesquinhamente auto promovido a chefe da tribo; licenciado numa auto-recriação anti-propedeutica! acerrimamente, descrito num papiro de gesso: “mestre de todas as patifarias, com distinção e duas menções horrorosas “… felizmente apenas cruzou num pé de água-pé de paupérrima qualidade e seguiu na sua quantidade...
afinal os pólos opostos repelem-se!
vai-te esconder… e apanhar-te-ei outra vez! - repliquei. e foste, sem pedir perdão…
conformado, confinado e exausto, sento-me na relva gélida para retemperar a massa encefálica. numa operação delicada, desligo o som… depois o olhar e assim sucessivamente até ao ponto de não-retorno. permito-me apenas o prazer de degustar a parca e parva pacatez de uma suave brisa… sim, cansado assumo toda a gloriosa vontade de me meter ao caminho e descobrir a minha pandora de paz…
sem querer nem crer, sorrateiramente ergo uma pálpebra… depois a outra e, num ziguezagueante momento persegui um bode-respiratório! depois uma erva-doninha! um casal de baleias-ana, uma fila de ostras-coisas estranhas, um camurso e outro e ainda um outro! ora: que apanhem na cloaca!!! haja paciência ou ciência que os ature!
quem é? - disseste após escureceres o meu olhar! sem surpresas, foste tu quem me apanhou desta vez! e, como prefiro não confirmar a tua própria resposta, continuei absorto neste mundo tão diferente, mas tão igual ao que desejo…
ah, e já agora: um beijo…
zp.091927