212.nove metros quadrados

nove metros quadrados para memória futura, num julgamento sem juiz: réu da minha própria pena. nove metros quadrados de paredes de uma não-prisão… uff! nove metros quadrados de livros e mais livros… centenas: por ler, lidos e assim-assim! pilhas deles, anarquicamente empilhados aqui e ali, uff! nove metros quadrados de folhas, papeis, guardanapos, recortes, bilhetes, toalhas de papel… todos tão soltos e dispersos quanto os apontamentos neles rasurados, uff! nove metros quadrados de revistas: todas vistas e revistas… centenas! nove metros quadrados de caixas, caixinhas, caixotes, num jogo de cheios e vazios interminável. uff! acessórios, isqueiros, zippos, lápis, canetas, que gasto sem poupar nos meus cadernos pretos perdidos neste meu mundo de nove metros quadrados… uff! cd’s, cd’s, cd’s. filmes, sons, recordações de tudo e de (ainda) nada! uff! relógios e dicionários, numa associação sempre presente, viciadamente olhados, como quem procura sem saber! uff! nove metros quadrados de roupa, roupas, calçado… onde não estão? sempre prontos e intocáveis, tropeço! máquinas: pc’s, ps’s, tv’s, dvd’s, rádios, despertadores (já disse relógios?), aparadores, fotográficas… uff! nove metros quadrados em dezenas de milhar de fotos… lapsos de tempo, congelados no espaço, para que jamais me esqueça! nove metros quadrados de arrumação e desarrumação diária e constante. nove metros quadrados de aconchego e conforto, o meu porto de abrigo. o meu ponto de partida e de chegada para todas as viagens físicas e emocionais. nove metros quadrados de coisas, minutos, horas, meses, anos e de antagónicos sentimentos. nove metros quadrados de paz e buliço, de barulhos e silêncio, de escuridão e luz... sem cor, mono e policromática... nove metros quadrados de vida, da minha vida!
zp 080526

1 comentário:

Rita Nery disse...

Acho estranho entrar num espaço e não sentir a pessoa...gosto de sentir o cheiro, ver aqui e ali pedaços dessa pessoa, coisas que deixamos para trás, que deixamos no lugar errado, ou no lugar certo mas que já nos esquecemos...eu adoro a minha desarrumação e a dos outros, gosto de sentir vida, movimento e sensibilidades que se soltam em pequenas lufadas permitindo aproximarmo-nos mais da pessoa, do dono(a) do espaço.
Sempre gostei de espaços onde a nossa cara se reflecte, personalizados mesmo que por obra do acaso:)

Beijo

Rita Nery